Anna Kendrick assume pela primeira vez a cadeira de diretora e nos faz embarcar num filme ora suspense, ora true crime - porém, o mais importante, traz uma visão feminina dos horrores que inúmeras mulheres passaram nas décadas passadas e ainda passam em mundo em que o machismo se faz tão presente. Com um caso real e absurdo em uma Hollywood dos anos 70, a diretora tem boas ideias, mas na minha visão uma execução um tanto ineficiente, por conta da montagem que tem cortes e saltos temporais abruptos, mas pelo clima da tensão que nunca se mostra eficaz como a trilha evoca.
Somos apresentados a Cheryl Bradshaw uma garota de New York que se muda para Los Angeles para tentar a vida de atriz na cidade que é o polo central da indústria, acompanhamos suas tentativas em audições, onde ele percebe que os realizadores dos testes não são pessoas de uma índole que seja confiável, aqui Kendrick já nos coloca dentro da situação que é tema principal desse projeto, a dificuldade que mulheres eram insultadas, provocadas e que mesmo assim precisavam manter a postura e engolir a seco, como ela se encontra num contexto onde apenas homens tem o controle, e o poder de decidir o futuro de carreiras.
Logo em seguida somos introduzidas a conhecer em paralelo ao nosso antagonista, o Rodney Alcala que se apresenta como fotografo e aborda mulheres para ensaios, leva as mulheres para lugares isolados para depois cometer seus crimes, que eram assassinatos, algo bem parecido com o que aconteceria depois aqui no Brasil com o caso do Maníaco do Parque, e assim conhecemos aqui o personagem que é o tema do filme. A montagem vai intercalando acontecimentos do presente e do futuro, o que não achei algo interessante para o filme, pois alguns cortes eram abruptos em meio a cenas que estavam com um bom clima de tensão, ou com passagens que abordavam mais o íntimo de nossa protagonista.
Apesar do título no Brasil não dar spoiler da trama, e para quem não viu nenhum material de marketing, o longa dá um grande foco e embate, a um dos famosos programas de namoros daquela década nos EUA, o The Dating Game, algo que para nós seríamos parecidos com programas do Silvio Santos e o mais recente quadro no programa do Rodrigo Faro - ou seja, colocar pessoas estranhas para se conhecerem e "armar" situações para formar casais. Aqui a cineasta já provoca o público com coisas do tipo, como as autoridades da época permitiram mesmo após varias denuncias que um criminoso como esse pudesse participar de reality shows, e aparecer na televisão, mesmo com vários casos relatados com retratos falado, e tudo mais, aqui é mais uma certeira crítica que Kendrick faz sobre a proteção dos homens, para com seus pares.
A mulher da vez é um bom filme, mesmo que fique claro que a falta de orçamento não permitiu maiores ambições por parte da produção nos elementos técnicos, e visuais do filme, e com o foco em ambientes fechados ou planos abertos de paisagens naturais, o longa traz uma boa visão dos horrores passados pelas mulheres que quase sempre são desacreditadas nessas narrativas, mas peca na evocação do thriller, mesmo que as personagens que foram vítimas expressem as situações horríveis que passaram, o filme nunca demonstra o peso real das crueldades cometidas por Rodney.
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