A arte é uma das coisas mais maravilhosas que existe no mundo, através dela podemos nos expressar, experimentar vários sentimentos, sensações e, por que não, até nos descobrirmos? A sétima arte, música e literatura são as que mais consigo ter identificação e conexão, seja por serem as mais acessíveis para mim, seja por conterem o contexto onde eu mais me sinto à vontade para falar, escrever e utilizar como ferramenta de interação social.
Esse breve relato é para dizer que Aftersun, longa de estreia na direção e no roteiro de Charlotte Wels, veio como uma flecha em minha direção, um filme sobre memórias que busca investigar mesmo que tardiamente lembranças de um passado que não se faz presente, e de imaginar se existiria um futuro. A conexão foi tanta com esse projeto, que tem como inspiração a história da própria autora que me fez imaginar como uma pessoa do outro lado do oceano consegue destravar sentimentos que pareciam apagados, ou que ficaram perdidos em uma parte da minha existência. Isso é a magia do cinema e das conexões que são formadas, dividir com o mundo algo que foi doloroso, ou especial é algo difícil e que exige uma sensibilidade enorme por parte do criador, independente do tipo de arte que será explorada - fazer as pessoas sentirem o que você sente, fazer as pessoas refletiram é uma das coisas mais vividas que nós como seres humanos podemos experimentar.
Eu sei que cada pessoa que assiste a um filme, ouve uma música, lê um livro, se conecta de maneiras diferentes com a história que está sendo contada, porque carregamos consigo nossas histórias, nossos pensamentos e nossa personalidade, sendo assim cada um reage de forma diferente, mas aqui nesse longa, a diretora juntamente com sua equipe, teve uma perspicácia brilhante, transformando o que seria apenas um filme sobre as férias, em algo mais cativante, mas intrínseco, e por que não sombrio. A história é simples, mas a maneira que foi realizada é fabulosa, a montagem é bem utilizada a favor da narrativa nos momentos de conectar o presente e o passado, e a fotografia no uso enquadramentos ora sufocantes, ora apenas espiando, tudo isso na perspectiva de uma criança de 12 anos, e uma adulta mediante filmagens caseiras, é realmente brilhante.
Mas o que vale destacar aqui, sem dúvidas, é a dupla de atores principais, Frankie Corio como Sophie na fase de criança e Paul Mescal como seu pai. O trabalha dela sem dúvidas é fantástico, com um carisma absurdo e cheio de doçura acompanhamos através dela essa historia, que se passa em um hotel na qual seu pai a leva para passarem as férias, antes do retorno das suas aulas, enquanto acompanhamos ela em meio a alguns jovens podendo observar os comportamentos daqueles que estão uma fase acima da sua, podemos acompanhar sua relação com seu pai, já que ela vive com a mãe e não são tantos contatos assim que tem com ele, mas ela nota toda a atenção que ele tem com ela, mas às vezes faz perguntas e questionamentos que ela não consegue identificar de cara, isso fica para a Sophie do futuro, que ao olhar as fitas percebe algumas nuances nas reações do pai, e a maneira como ele encarava todo aquele cenário.
Só que aí vem Calum (Paul Mescal) que aqui nos apresenta uma performance digna de entrar para o hall da fama, e lhe render sua primeira indicação ao Oscar, fazendo o papel de um pai que ama sua filha e que quer ao máximo aproveitar cada momento com ela, mas que esconde vários segredos da filha, o que é reforçado pelos enquadramentos sempre nas sombras, pelo espelho ou de costas, e sente enormes dificuldades em se expressar, o que fica nítido em seu semblante, e que o mesmo passa por sérios problemas, mas que em momento nenhum deixa interferir no seu programa com sua filha, e no seu papel como pai, fazer aquela criança feliz e se sentir a pessoa mais especial possível.
Aftersun me marcou bastante não porque compartilho uma história similar de tragédia ou algo parecido, tive uma infância ótima, duas famílias acolhedoras, e muitas oportunidades que criar memorias maravilhosas - mas como a autora aqui nos faz refletir, buscar nessas memorias algumas verdades por trás dos acontecimentos, percebi o quão grato eu sou pelas pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida, e por me permitirem criar momento essenciais e crucias que fazem de mim ser quem sou, e principalmente não perder a minha essência, assim como eles fizeram e fazem - nunca abrir mão de dizer que ama todos os dias alguém que você ama, e nem de fazer ela se sentir a pessoa mais especial do mundo enquanto juntos estiverem.
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