Indicado do Camboja para uma vaga ao Oscar de melhor filme internacional ( não passou para a short list ) o filme do cineasta Rithy Panh, chega aos cinemas brasileiros em 2 de janeiro com distribuição da Pandora Filmes.
Encontro com o ditador foi o meu último filme assistido de 2024 e será a minha primeira critica de 2025 e começa com um bom filme vindo de um lugar diferente que é o Camboja
O Camboja sofreu consequencias graves da guerra de seu pais vizinho o Vietnã o que deu à ascensão de um dos regimes mais atrozes mordazes e sombrios do pais o Khmer vermelho liderado pelo ditador Pol Pot
Em um mundo diverso e repleto de grandes histórias reais, umas mais contadas e difundidadas do que outras ( exemplo 2 guerra) é bom ver filmes que retratem um lado da história mundial não tão antigo mas que é tenebroso e nebuloso e retratado por Rithy Panh em seus filmes e em seu novo longa que são baseados em fatos reais e históricos que devem ser contados para que não sejam esquecidos
Partimos então para o final dos anos 70 no sudeste asiático no Camboja quando então 3 jornalistas franceses descem do avião para encontrar e entrevistar o ditador Pol Pot do regime do Khmer Vermelho ( a convite do mesmo) o responsável por orquestrar um dos maiores crimes contra a humanidade do século XX. onde quase 2 milhões de pessoas foram mortas no país
O filme é livremente inspirado no relato da jornalista Elizabeth Becker no livro “When The War Was Over”.
O que Pol Pot e seu regime queriam era mostrar uma propaganda enganosa e de fachada do que que acontecia no Camboja e colocar uma cortina de fumaça do que de fato ocorria internamente no país e impondo a censura para os 3 jornalistas franceses do que perguntar e do que fotografar e o que mostrar e do que escrever para que o mundo exterior visse eles como um bom governo comunitário
Apesar de se passar no Camboja a lingua mais presente no filme não é khmer ( lingua do país ) mas sim o francês já que vemos pela perspectiva dos jornalistas franceses o que até mesmo em momentos do filme se mostra ser uma grande barreira de comunicação mas usado de forma intencional
*a título de curiosidade o francês também ja foi uma lingua bastante usada e falada no Camboja em seu periodo colonial e até usado em meados do século XX
O filme chega a lembrar um pouco do filme guerra civil (Alex Garland ) ou the post - a guerra secreta ( Steven Spielberg) com a visão dos jornalistas porém com um orçamento bem mais baixo e com menos "ação"
Por não ser uma conhecedora da filmografia do diretor Rithy Panh sei que outro filme dele foi indicado ao Oscar de melhor filme internacional em 2014 chamado "A imagem que falta" e da qual em Encontro com o ditador ele imprimi também um pouco do usado anteriormente que foram a recriação de momentos e diálogos usando imagens de barro e da qual também é visto nos trailers
No decorrer da história os jornalistas vão fazendo suas pequenas investigações, Indagações e questionamentos aos soldados e a cada descoberta o horror, o medo vai crescendo sobre eles e o iminiente perigo também do encontro com o ditador, nem mesmo Alain o jornalista que até então era um bom conhecido e até considerado amigo do ditador já que quando jovens chegaram a estudar juntos e ele não escapa disso mesmo que demore um pouco a perceber
E é através dele que em um das cenas é mostrado um livro em uma mesa em um suposto quarto do ditador chamado "O contrato social" do autor Jean-Jacques Rousseau
"Para Rousseau, o homem nasce bom e a sociedade o corrompe, ou seja, o homem através da história torna-se mau , com o objetivo de lesar o outro."
O que mostra a psique perversa de Pol Pot e de seu regime ditatorial e de não arrependimento de seus atos contra a população já que não tolerava opositores e críticas ao seu governo e quem era contra deveria ser eliminado ( os intelectuais foram os primeiros)
A tensão vai crescendo a medida que os jornalistas são cada vez mais censurados e silenciadose denotando uma tragédia já anunciada e que ja estava acontecendo
Apesar disso o filme não é expositivo deixando mais no subentendido e como o orçamento era bem baixo fica perceptivel também muito no pressuposto do que estava acontecendo porém numa escala bem menor do que de fato aconteceu
outro ponto fraco a fotografia nãp é das melhores com imagens um pouc mais escuras e não nitidas deixando nas sombras também
Encontro com o ditador é um retrato cruel, perverso e não tão conhecido e também mostra a censura e o silenciamento de regimes ditatoriais sobre a imprensa sejam elas locais ou estrangeiras que ao tentar mostrar o que de fato acontecia e não o que era mostrado de fachada um filme bem interessante para ser visto
Ficha técnica
Elenco: Irène Jacob, Grégoire Colin, Cyril Guei, Bunhok Lim, Somaline Mao
Direção: Rithy Panh
Roteiro: Pierre Erwan Guillaume e Rithy Panh, baseado em When The War Was Over de Elizabeth Becker
Direção de fotografia: Aymerick Pilarski, Mesa Prum
Montagem: Rithy Panh, Matthieu Laclau
Técnico de som: Nicolas Volte, Tu Duu-Chih, Eric Tisserand, Tu Tse-Kang
Cenografia: Mang Sareth, Sou Kimsan, Chanry Krauch
Figurino: Ariane Viallet
Direção de Produção: Sovichea Cheap
Trilha sonora original: Marc Marder
Trilha sonora co-produzida e gravada por: Mitch Lin, Shao-Ting Sun
Direção de som: Yu-An Chang
Produção: CDP e Anupheap, TAICCA, Doha Film Institute, TRT Sinema, LHBx An attitude, Obala Centar
Apoio de: le Centre national de la Cinématographie et de l’image animée, Canal +, Ciné+, le Fonds Image de la Francophonie, La Banque Postale Image 16
Produtores: Catherine Dussart, Rithy Panh, Justine O., Roger Huang, Fatma Hassan Alremaihi, Hanaa Issa, Mehmet Zahid Sobaci, Muhammed Ziyad Varol, Mirsad Purivatra, Jovan Marjanović, Georges-Marc Benamou
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