Wim Wenders é um cineasta de mão cheia que já nos contemplou com obras maravilhosas e de pura reflexão, nessa nova empreitada ele não só demonstra que está em plena forma criativa, mas também com novas ideias e com uma sensibilidade ainda mais apurada. E encontrou na cidade de Tóquio a cidade ideal para nos trazer um filme belíssimo, cheio de homenagens e poesia e mostrar algumas facetas de seus habitantes.
Na trama acompanhamos Hyrayama (Koji Yakusho), que é um servidor publico que faz a limpeza dos banheiros públicos de Tóquio que são umas em si um charme à parte, pois possuem visual belo, e são bastante tecnológicos, o que percebemos quando algumas pessoas que não são nativas, não conseguem utilizar eles de forma segura e privada. Wim Wenders utiliza a cidade de forma magistral, tornando ela um personagem na história, já que sempre estamos percorrendo toda sua extensão, guiados pelo nosso protagonista que se vislumbra com suas paisagens, e aprecia cada pedaço do trecho percorrido desde sua saída de casa até o trabalho, e o seu retorno.
Com uma história simples, e pouquíssimos diálogos e com poucos personagens, esse filme aqui, sim, é basicamente um estudo de personagem, mesmo que fala muito pouco, tem muito a dizer com seus olhares e reações, e principalmente a sua rígida rotina imposta por si, que faz dele uma pessoa sozinha, mas que em momento nenhum o vemos triste, as poucas interações que tem, ele é sempre muito simpático, sorridente e prestativo. Aqui notamos o trabalho impecável de Koji Yakusho, nos colocando dentro desse seu universo particular, que não envolvem grandes conquistas, que não tem grandes bens, é um ser humano que consegue ser feliz, sozinho realizando sua rotina de comer sempre no mesmo lugar, tomar banho no mesmo lugar coletivo, tirar foto da mesma arvore todos os dias e com os recursos tecnológicos que para ele servem bem o suficiente, como uma câmera analógica, fitas k7, e claro o seu voraz apetite por leitura.
Cada filme tem suas mensagem, ou seus pontos de reflexão, quando se propõem a isso, e principalmente cada filme seja ele qual for, quando marca você, é algo inexplicável, esse me marcou pela sutileza em momentos chave da trama, a qual são as interações. Sempre gostamos de falar para nós mesmo, e também somos bombardeados de informações do tipo primeiro seja feliz consigo mesmo, para depois se permitir alguém entrar na sua vida e coisas do tipo, eu concordo com esse pensamento, mas assim como no filme vemos uma pessoa muito feliz e resolvida sozinha, mas quando algumas interações e laços são criados, e depois são desfeitos, nossa aquilo bate forte também na gente espectadores, porque assim como nosso protagonista, somos seres humanos, fomos criados para viver coletivamente, por mais bem resolvido que possamos ser em nossas vidas, ter alguém que nos ame, nos apoie, é essencial para alma e para o coração, dividir experiências e se conectar com as pessoas, é sem dúvidas umas das melhores sensações que podemos experimentar.
Magicamente Wim Wenders consegue trazer isso em tela, e nos presentear com um filme visualmente incrível, uma trilha impactante, simplesmente mais um filmão para sua filmografia.
Comments