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Foto do escritorPablo Escobar

Maníaco do Parque I Um desserviço


Maníaco do Parque - Divulgação

No fim dos anos 90, o Brasil foi impactado por uma série de assassinatos contra mulheres cometidos no parque do Estado, na capital São Paulo, por um cidadão chamado de Maníaco do Parque, que após preso confessou pelo menos 11 deles e foi condenado a mais de 200 anos de prisão.


O true crime, desde a última década, vem sendo um dos conteúdos em alta no Brasil, com vários tipos de mídias, como a literatura, podcasts, séries, contando e recriando casos famosos de crimes bárbaros que aconteceram em solo brasileiro. E a plataforma de streaming Prime Video vem apostando bastante nesse segmento juntamente com o diretor

Maurício Eça, que dirigiu a trilogia do caso da Suzane Von Richthofen.


Na sétima arte, sempre dizemos que há espaço para todas e quaisquer histórias serem contadas, com os mais diversos elementos e recursos narrativos, pois mais importante do que a história, é como ela vai ser contada. Recentemente nos EUA houve grande revolta por casos famosos terem ganhados vidas em séries e filmes como os casos de Teddy Bund e Dhamer que as escolhas narrativas deram ênfase e foque total aos assassinos ao invés das vítimas, o que é uma linha bastante tênue, sendo que as vítimas e seus familiares não tiveram qualquer destaque, ou suas histórias contadas da forma como eles achavam que deveria. Dito isso, não é diferente aqui das nossas produções, até porque convenhamos, quem daria play ou iria ao cinema se o título do filme fosse Elena (explico mais a seguir a comparação) e não Maníaco do Parque.


Maníaco do Parque - Divulgação

Breve contexto explicado, vamos ao nosso longa. A escolha narrativa foi optar por uma ficção baseada nos fatos trágicos dos crimes cometidos por Francisco de Assis Pereira - O maníaco do parque, interpretado pelo excelente Silvero Pereira, que esteve em Bacurau. Nesse contexto somos introduzidos a essa história do ponto de vista da jornalista Elena interpretada por Giovanna Grigio, uma personagem fictícia criada para o filme que conforme os produtores e o diretor do filme, falaram que para dar uma visão feminina do caso e uma forma de reparação as mulheres brutalmente assassinadas, ou seja, não dar foco ao personagem título. Mas é justamente esse o ponto onde o filme falha na minha visão, transformar o longa num thriller investigativo, onde acompanhamos a novata Elena numa redação de um jornal sensacionalista em busca de ascensão na carreira, traz muitos problemas para o desenvolvimento dessa narrativa, pois como o filme se divide em dois blocos paralelos, onde um seguimos Elena, e no outro Francisco, a força da protagonista se perde, pois não desenvolve de uma forma minimamente satisfatória os seus dramas, e nem a sua psique. Já o Francisco, com menos tempo de tela e com um texto fraquíssimo não nos convence que aquele cidadão era realmente capaz de conseguir convencer e levar mulheres para dentro da floresta e cometer seus crimes, o texto fala que ele tinha lábia, mas em tela você vê apenas as mesmas frases repetidas de um discurso pobre que mesmo que a gente espectador saibamos que vai acontecer, é difícil ficar convencido que aquele papo convenceu as vítimas. Nas várias matérias ao longo dos anos, é sabido que o maníaco do parque aproveitava não só do charme que ele tinha, mas também explorava alguma vulnerabilidade da vítima, pois ele sabia exatamente do que ela precisava.


Por não conduzir bem paralelamente a narrativa, aqui vemos também escolhas completamente bastante controversas, já que optaram pelo filme ser uma investigação, a sensação que dá é que somente nossa protagonista em toda a cidade está interessada em resolver o mistério da identidade do criminoso, já que ela mesmo quem escreveu e criou o pseudônimo do assassino, mas o que vemos são apenas embates dela com seus colegas de profissão, onde quase todos os seus colegas de trabalhos homens são retratados com machistas, misóginos (mesmo que o texto enfatize que são grandes jornalistas com grandes contribuições para a sociedade), e a polícia retratada exclusivamente na figura do delegado designado do caso que só querem atrapalhar ou atrasar o curso das informações coletadas pela nossa protagonista, que ainda tem seus dilemas pessoais com a recente perca do Pai, que é jogado aqui sem nenhum tipo de criação de vínculo, ou explicação e nesse contexto ainda temos os péssimos diálogos e super expositivos dela com a sua irmã uma psicóloga, que em 2 linhas de diálogo retirado do Wikipédia, passa informações sobre como funciona a mente de um psicopata, o que além de vago, é usado pelo roteiro como uma grande perspicácia da nossa protagonista que começa a ir atrás de perfis, em vídeos gravados por um grupo de patinadores após receber informações da prima de uma das vítimas.


A progressão dessa investigação é muito desconjuntada, vemos Elena com alguns problemas e dificuldades para encontrar respostas e mostra-a nesse embate solitário em busca da identidade do criminoso, traçando perfis e montando um muro com recortes de informações, algo bem clichê. Em grandes filmes dessa temática, temos o sensacional Zodíaco de David Fincher, onde vemos os personagens do jornal completamente esgotados emocionalmente com falta de informações e pistas, o que nos dá a sensação fiel de como fica uma pessoa que mergulha de vez na investigação. E temos também, O silêncio dos Inocentes, onde acompanhamos uma situação similar entre Elena e a Clarice, que são duas mulheres desacreditas pelo seu gênero, mas lá vemos uma detive muita mais perspicaz e inteligente, mesmo nos seus debates com o Hannibal Lecter, e por último o premiado Spotligth, que também mostra de forma melhor o funcionamento dos jornalistas envolvidos na exposição de um dos maiores escândalos da igreja católica, nesses 3 longas temos a forma da narrativa um tanto quanto similar, mas escolhas muito mais assertivas.

Maníaco do Parque - Divulgação

Enquanto na outra linha da narrativa temos uma atenção pequena ao nosso personagem titulo, somos apenas inseridos em sua rotina, e nos seus interesses como a patinação, jamais dá aprofundamento ao seu modus operandi de fato, o que ainda é contraditório com o texto que fala que os psicopatas são frios que não demonstram medos, nervosismos ou remorsos, mas o que vemos é um maníaco do parque por muitas vezes apresentando justamente essas características, o que mostra uma falta de percepção enorme da equipe. Quanto aos outros elementos do filme, cumprem de maneira razoável suas funções, como não é um longa de grande investimento, não temos aquela sensação realmente em tela de estar nos 90, assim a escolha por tomadas em ambiente fechado são maiores, e as tomadas externas foca em paisagens da natureza, vemos alguns carros e por vez e outra fachadas com estilo da época, mas o design de produção, cabelo e maquiagem não são o ponto forte desse longa. Mas o que chamou a atenção foi a trilha sonora enfatizar todas as cenas do Francisco andando de Patins ao som de músicas do gênero rock, o que me deixou confuso, pois a produção acha que só quem ouve rock é capaz de cometer tais crimes, ou foi foram escolhas de mau gosto mesmo, agora como trilha em momentos de tensão, são marcações simples, para um filme que não demonstra tensão nenhuma, pois a construção de tal clima é praticamente inexistente.


Maníaco do Parque - Divulgação

Maníaco do parque é um longa com ambições, mas que falha em cada escolha, seja ela estética ou em termos de construção de narrativa, e quanto ao dar vozes às mulheres e vítimas, aqui só reforça mais uma vez que todas elas foram tratadas apenas como números, sem força nenhuma. Existem Podcasts e livros que aprofundam muito mais e de forma mais eficaz, mas aqui nesse longa apenas empobrece a história das vítimas, não dá voz ou força a elas e seus familiares e, como estudo de personagem, é um drama digno das piores produções que já tivemos, um repleto desserviço.

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